18 abril 2010

Indios Anacés

A possibilidade da instalação de uma refinaria no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) gerou descontentamento entre o povo indígena Anacé. A etnia, mesmo sem a confirmação do empreendimento por parte do Governo do Estado ou da Petrobras, já se mobiliza para preservar um de seus patrimônios. Um cemitério secular, fundado pelos índios, estaria em um dos dois terrenos oferecidos pelo Estado para estudos. Os anacés habitam áreas de Caucaia e de São Gonçalo do Amarante- cidades que podem abrigar a refinaria - e prometem até "guerra" para proteger o local.
O cemitério, chamado de Cambeba, é situado em Caucaia, no distrito de Matões, distante cerca de 10 quilômetros do Pecém. O local é de difícil acesso e isolado. É administrado hoje pela Prefeitura. De acordo com a etnia, documentos de 1651 e 1712 comprovam a presença dos anacés na região. O cemitério também teria surgido nesse período. Segundo Francisco Ferreira, 28, o Júnior Anacé, que conta a história de seu povo, o cacique Cambeba morreu sob a sombra de uma pitombeira e lá foi enterrado. Assim surgiu o cemitério. A árvore, ele destaca, ainda está lá.
Os anacés não toleram a possibilidade de acabar com o Cambeba. "Lá estão nossos ancestrais, nossa história", reclama João Freitas, 38, o Joãozinho Coração de Índio. A avó, Têda Anacé, foi enterrada em 1970, no Cambeba, aos 104 anos. Mas ele não lembra, ao certo, onde está o túmulo. A identificação de jazigos é precária. Parte tem somente uma cruz, sem inscrições ou registros. "São os (índios anacés) mais antigos. Eram analfabetos", completa Júnior.
Conforme Júnior, especulações sobre a refinaria já circulam "há muito tempo" entre os anacés. Há oito anos, ele lembra, a etnia fechou a rodovia CE-085 em forma de protesto contra a execução de projetos na região. Júnior diz que "vai haver uma guerra" caso haja a confirmação da refinaria na área do Cambeba. O indígena adianta que deve articular, junto à Fundação Nacional do Índio (Funai), a demarcação das terras em prol do povo anacé.

Confirmação:
 
O Instituto do Desenvolvimento Agrário do Ceará (Idace) atesta que o Cambeba está na área do CIPP que, por decreto, é de utilidade pública. A informação, porém, não confirma que o cemitério esteja num dos terrenos oferecidos para estudos. "São 33 mil hectares. Algo (complexo) dessa natureza sempre envolve áreas muito grandes", explica o diretor-técnico do Idace, Ricardo Durval.
A Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), por sua vez, confirma que duas áreas - em Caucaia e São Gonçalo do Amarante - foram definidas para estudos. A agência, porém, não revela se o Cambeba está ou não no terreno de Caucaia. Até o fechamento desta edição, O POVO não recebeu resposta. A Prefeitura de Caucaia informa que não se pronuncia sobre o assunto.
De acordo com a secretária-geral da Missão Tremembé, Maria Amélia, o preconceito motivava resistências contra o sepultamento de indígenas. Segundo ela, a situação começou a ser solucionada depois que dom Aloísio Lorscheider passou a trabalhar com as etnias.
O pedido para levantar o número de indígenas em Caucaia partiu de dom Aloísio para o sociólogo José Cordeiro, que depois coordenou a Pastoral Indigenista. Ele faz questão de lembrar que guarda uma foto do ex-arcebispo celebrando uma missa junto aos índios.
As fotos tiradas da missa pelo fotógrafo Marcos Guilherme, ele ressalta, estão no museu dos tapebas.

Anacés vão pedir apoio ao MPF e ao Iphan: 

De acordo com líderes anacés, a etnia tem, cadastradas, 385 famílias, em torno de 1.265 pessoas. O povo articula medidas para tentar impedir ações contra o Cambeba. O Ministério Público Federal (MPF) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) devem ser acionados. Além disso, eles buscam apoio de outros povos indígenas. A Prefeitura de Caucaia reconhece que o cemitério, hoje com um número reduzido de sepultamentos, foi fundado pelos índios. "Nós não vamos abrir mão desse cemitério por nada desse mundo", exclama Júnior Anacé. Segundo ele, a etnia não é contrária à refinaria, desde que o Cambeba seja preservado. Neste fim de semana, os anacés se reunião na escola Direito de Aprender do Povo Anacé para dar continuidade ao trabalho de resgate histórico e, ainda, discutir a situação do Cambeba. Um documento, adianta Júnior, será elaborado e levado ao MPF. O Iphan também será acionado paralelamente. E os índios tapebas, também de Caucaia, serão convidados a aderir à causa.

É difícil identificar boa parte de covas e jazigos. Um menino, aos 10 anos, morreu em 1927 e "deixou saudade de seus paes (sic)". Em 1935, uma mulher de 35 partiu e "deixou saudade de esposo e filhos". Estes são os jazigos mais antigos cuja identificação de nomes e datas ainda é possível. Já um homem morreu em 1936, deixando "saudades de sua esposa e família", mas a lápide desgastada impede a visualização de seu nome. Há ainda um homem cujos dados estão num galão de querosene.

Fonte: O POVO - CE

Um comentário:

  1. prof.César ,eu simplismente adorei essa postagem ,ela é muito interessante ,confesso-lhe que não tinha nenhuma informação sobre esse assunto,e creio eu que poucas pessoas de Caucaia também saiba disso.mais quero lhe fazer uma pergunta:Qual a sua opnião sobre isso?


    aguardo resposta jocélia 3ª"A"

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